quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Charlie Sheen e o anonimato do portador de HIV

Charlie Sheen revelou que é portador do HIV, há quatro anos sabe da contaminação. Porém tudo leva a crer que ele só revelou seu segredo por estar sendo chantageado e estar a ponto de não conseguir mais esconder a sua condição. Ainda assim é necessário um pouco de coragem para fazer o que não se tem outra saída. Parece que ele fez sexo sem camisinha com suas parceiras e não contou, o que é crime nos EUA. Ao revelar sua soroposivitividade ele se livrou apenas de parte do problema, mas talvez seja parte suficiente para tirar certa dores de cabeça.
Ele entra agora para o hall dos artistas contaminados e assumidos que estão vivos. Entre eles Magic Johnson que convive com a doença a pelo menos 24 anos.
Todo esses rumores em torno da revelação de Charlie Sheen não evitou que Magic o convidasse a participar da sua luta contra AIDS e conscientização sobre o HIV. Não me lembro de uma grande celebridade como ele ter revelado nos últimos anos que está com HIV. E só por isso, o ato dele já significativo. Ainda mais por ser heterossexual convicto e evidente. Ajudando a mostrar mais uma vez o quanto a doença é mal da humanidade como todo e não apenas de um segmento. No Brasil, não há uma dessas pessoas famosas que publicamente se manifeste portador do HIV. As pessoas encontram um jeitinho para se manter no anonimato ou camuflar falando que é outra. Fiquei sabendo disso por uma proposta que recebi.
Cerca de um mês atrás um dos meus amigos portadores de HIV me perguntou se eu não gostaria de usar o serviço de psicólogo dele para buscar os remédios no centro de distribuição do governo. A ideia é permitir o anonimato. Passar pelas filas das farmácias pode ser também uma experiência no mínimo constrangedora e estressante. Por isso, resolvi marcar a consulta com o tal profissional para ver do que se tratava. Cheguei em consultório muito elegante no Itaim. Havia uma sala de espera, mas fui atendido diretamente pelo homem por volta dos seus 40 e poucos anos. Bonito e extremamente simpático. Ele me levou até uma sala na qual sentei e conversamos sobre o serviço. Eu passaria uma espécie de procuração para ele, pagaria uma consulta particular no valor US$ 300,00 para entrar no esquema e mais uma taxa mensal de US$ 30,00, um valor que ele deixou claro que faria para mim por ser amigo do fulano. Sim, os valores eram negociados em dólares. Eu hesitei e falei que iria pensar. Então, no que pareceu um intuito de me convencer, ele me revelou que dois dos clientes deles eram artistas da Rede Globo. Claro que não mencionou nomes, mas falou que um deles tinha passado por um problema de saúde por conta do contágio e recentemente simulou uma outra doença para justificar as internações e idas aos hospitais, além da mudança de aparência. E que o outro era uma pessoa que ninguém nunca desconfiaria por ter uma aparência atlética, saudável e por ser muito bonito. Ele poderia muito bem estar inventando toda a história para ganhar mais um "cliente", ou contava uma vantagem. Não dá para saber. O fato é que a história faz sentido e que ele efetivamente presta esse serviço para dois amigos meus. Fazendo a conta, se ele tiver 10 desses clientes, é cerca de R$ 1.200,00 apenas em uma ida em uma farmácia... Eu poderia gastar esse dinheiro, esse não era o problema. Mas achei melhor não por vários motivos. Então falei que iria pensar para deixar a opção em aberto e me despedi. Não pude deixar de notar que a saída era feita por outra porta que dava em uma outra sala menor.
Se esse serviço foi oferecido para uma pessoa comum como eu, imagine as possibilidades para artistas e personalidades famosas. Imagine quantas pessoas não passam o que Charlie Sheen está passando. Nos últimos meses, tenho conhecido muitas pessoas com HIV. São amigos de amigos, conhecidos e estranhos. Uma verdadeira multidão silenciosa que se esconde atrás do anonimato para pode seguir vivendo relativamente normal. Ao ponto de ser comum estar na The Week, em plena área VIP e me ver cercado por soropositivos por todos os lados em um silêncio cúmplice. Alguns não sabendo que a pessoa com quem estão são também portadores do HIV e não havendo nada que pudesse ser feito para alertá-los sem revelar o segredo de tantos outros. Então eu penso, será que vale a pena? Será que não é melhor deixar rolar a notícia?


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